Por Valesta GueroCurso de Jornalismo
[ Postado em: 28/11/2008 ]
RESENHA CRÍTICAFILME: “O SHOW DE TRUMAN”Do diretor Peter Weir e do roteirista Andrew Niccol, “O Show de Truman”, é um filme de drama e foi lançado em 1998. O longa metragem conta a história de Truman Burbank (Jim Carrey), 30 anos, um vendedor de seguros que vive em Seaheaven, uma ilha em que todos parecem conviver harmoniosamente. Truman tem uma rotina pacata, acorda cedo, lê jornais, vai ao trabalho e no final do dia retorna para casa onde tem uma relação estável com sua esposa – Meryl (Laura Linney).Ao longo do filme, Truman, começa a perceber que é vigiado, situações estranhas acontecem e ele decide fugir da cidade, é aí que descobre que sua vida é um programa de televisão e ele é o protagonista. Todas as pessoas com que convive são atores e a ilha onde mora é artificial, assim como o mar, a praia, a lua e tudo o que o cerca, exceto ele. A vida de Truman é um reality show e 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo acompanham sua rotina, desde o seu nascimento.Deixando um pouco de lado a sinopse do filme, vamos refletir a cerca da idéia principal do longa metragem. “O Show de Truman” é, em doses exageradas, o que vivenciamos hoje em relação a mídia. Os meios formadores de opinião possuem um agendamento de forma a fazer-nos pensar da maneira que almejam, seja por interesses próprios, governamentais ou mesmo de consumo.O gênero do filme é drama, porém muitas vezes durante a história é possível dar várias gargalhadas. A esposa de Truman é uma espécie de garota propaganda de determinadas marcas – de cacau, facas, cortadores de grama, etc – e em determinados momentos ela olha para a câmera – escondida em algum lugar – e com a maior naturalidade, faz o anúncio. Isso se chama mershandizing e é um elemento muito presente em novelas, pois é de grande persuasão. Muitas vezes o público não percebe que ele= existe – exatamente como Truman – e realmente acredita que o seu personagem favorito também use a determinada marca ou produto. Nesse sentido, a mídia tem se mostrado esperta e se utiliza do mershandizing a todo o momento, de formas explícitas ou implícitas.O filme é um drama sim, porque mostra um abuso exacerbado da imagem de uma pessoa, expondo-a como produto de consumo e entretenimento, resultando em altos lucros para a agência criadora do programa. Truman é um homem verdadeiro e está vigiado 24 horas por dia pela TV. Para que não possa escapar do mundo artificial onde vive, os produtores criaram situações que o deixaram traumatizado, com medo de água, desta forma, ele não consegue sair da cidade, visto que ela é cercada pelo mar.Esse é o exemplo de como os meios midiaticos criam espécies de barreira mentais, quando nos mostram todos os pontos positivos e vantagens de algo que desejam que consumimos e ao contrário de algo que não querem. O exemplo real mais clássico dessa situação, é o da indústria do cigarro há cerca de 30 atrás, o produto era símbolo de charme e bom gosto, os principais atores eram fumantes, o toda a mídia trabalha em torno da construção da imagem do cigarro. Hoje, sabe-se que este produto causa danos irreparáveis à saúde. Mas, o que não deu para evitar foi o grande número de fumantes que a geração da época criou. É isso que a mídia faz, constrói uma “verdade” a partir de uma argumentação e de uma insistência rotineira. É o velho ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, é por isso que existe o agendamento, uma mentira de tanto ser contada acaba se tornando uma verdade.A mídia hoje é o “Big Brother”, como definiu Orson Wells no livro “1984”, ela é o “grande olho, grande irmão”, que tudo filma e tudo vê. Nossas vidas são cercadas e monitoradas, nossos movimentos são estudados e as idéias são boicotadas, de forma singela e indolor. A ação da mídia é quase imperceptível por nós.Cristof – o coordenador do programa de Truman – monitora ininterruptamente a vida do rapaz através de 5 mil câmeras espalhadas pela cidade. Em um determinado momento do filme, Cristof é questionado sobre o porquê de Truman jamais ter percebido de sua real condição, e ele afirma “aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes, é simples”.Essa citação de Cristof, nos leva à várias reflexões, a primeira delas é a da “teoria hipodérmica” da comunicação, onde as informações são injetadas no público e este as aceita de forma passiva, sem questionamentos ou verificar dos fatos. Truman, a princípio, aceitava o mundo em que vivia tal qual como era. Quando era criança ele contou à professora que queria ser explorador do mundo, esta, por sua vez, ao perceber que Truman não poderia jamais sair de sua cidade, disse que não havia nada à ser explorado, que o mundo todo já havia sido descoberto. Fazendo Truman desistir da idéia.O “Show de Truman”, ganhou três Globos de Ouro e recebeu três indicações ao Oscar, uma delas por melhor filme. Premiações estas, talvez, pela ousadia em mostrar a atuação da mídia de forma escancarada, visto que os meios formados de opinião representam hoje o “quarto poder”, definido por alguns estudiosos.Vivenciamos hoje, não apenas no Brasil, o sucesso que os programas de reality show fazem, como exemplo, o “Big Brother Brasil” que conquistou faturamento e audiência inigualáveis em todas as edições. É preciso então, refletir a cerca da integridade humana enquanto produto de entretenimento negociado nas indústrias midiáticas. “O Show de Truman” é um ótimo exemplo de como a mídia consegue ser evasiva quando quer, e fica a dica para os futuros comunicadores – peças chave do processo de mediação – é possível fazer jornalismo e entretenimento sem invadir o espaço alheio.